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  • Foto do escritorBruno Bay Gonçalves

Uma breve história sobre o Neurofeedback...

O Neurofeedback é uma forma de "terapia" (muitas vezes chamado também de "treinamento") não invasiva e altamente tecnológica, baseada em evidências, no qual é possível treinar nossas ondas cerebrais a nível elétrico. Hoje, o Neurofeedback é útil no tratamento de vários distúrbios neurológicos, incluindo epilepsia, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), TEPT (Transtorno de Estresse-pós-Traumático), ansiedade, depressão e de sintomas decorrentes de lesões cerebrais traumáticas.

O Neurofeedback utiliza feedback (do inglês, “retroalimentação” – ou simplesmente, uma resposta baseada na “saída” de um sistema) em tempo real a partir do monitoramento eletroencefalográfico para medir impulsos elétricos no cérebro, e, com um treinamento regular, pode-se ensinar o cérebro a se auto-regular melhor.



Exemplo do funcionamento de uma sessão de Neurofeedback. Enquanto a cliente (lado esquerdo) acompanha visualmente a progressão de suas ondas cerebrais em tempo real (“convertidas” em feedbacks em forma de vídeo), o treinador (lado direito) a orienta e acompanha tanto a execução do protocolo quanto o andamento da dinâmica elétrica cerebral (no entanto, na sua forma mais “pura”).


As origens do Neurofeedback são fascinantes, e os pesquisadores estudam os seus efeitos há décadas. Na década de 1920, o psiquiatra alemão Hans Berger criou o primeiro dispositivo de EEG (Eletroencefalografia) conectando eletrodos à cabeça humana e medindo as correntes elétricas produzidas.



Hans Berger e seu sistema de coleta e medição de dados.

A descoberta original do EEG foi resultado de um esforço determinado de Hans Berger ao longo de quase duas décadas. Ele foi colocado nesse caminho por uma experiência pessoal de telepatia mental, que redirecionou sua carreira para a medicina, onde estava determinado a encontrar uma base fisiológica para o fenômeno. Neste projeto paralelo duradouro, realizado enquanto servia como diretor clínico de uma clínica de neurologia e psiquiatria, ele falhou. Mas apesar das limitações da eletrônica primitiva, ele foi capaz de encontrar um sinal EEG minúsculo.



Laboratório de Hans Berger.

Diante de suas próprias incertezas, levou mais cinco anos para ele publicar suas descobertas, que ocorreram em 1929, e então foi a vez de seus colegas serem céticos. Levou mais cinco anos até Adrian e Matthews replicarem seu trabalho na Inglaterra, que serviu para mudar o rumo dos progressos. Esses autores também foram os primeiros a observar os efeitos da estimulação visual síncrona na atividade da banda Alpha no EEG. Berger havia identificado pela primeira vez este proeminente padrão rítmico EEG, que posteriormente passou a ser rotulado de ritmo Berger.



Exemplos de traçados de EEG em 10 pontos diferentes do Sistema 10-20 (Note que o eixo das ordenadas representa o valor (em microvolts) do sinal de EEG, enquanto o eixo das abscissas representa o tempo decorrido da gravação dos sinais).


Berger deve ser considerado um dos pioneiros da disciplina nascente da psicofisiologia, e ele é creditado com a criação do termo. Embora tenha-se observado a fenomenologia do EEG em epilepsia, no começo, ele não foi orientado para a utilização médica do EEG. Durante décadas, na verdade, a principal utilidade do EEG em neurologia permaneceu com aquelas características que eram óbvias na mera inspeção visual do EEG clínico. Isso teve o efeito de consolidar uma avaliação bastante modesta da utilidade do EEG, que seria difícil de desalojar. A utilidade do EEG na psicofisiologia também permaneceu restrita. A exploração completa do EEG teria que aguardar a disponibilidade de novas ferramentas de medição e análise.


O Neurofeedback, ou seja, a técnica que envolve a alteração da atividade cerebral e seus efeitos, foi pioneira no final dos anos 1950 e 1960 por dois pesquisadores: Dr. Joseph Kamiya da Universidade de Chicago e Dr. Barry Sterman da UCLA.


Kamiya descobriu que, usando um sistema simples de recompensa, as pessoas podiam controlar suas ondas cerebrais. Ele treinou as pessoas para alcançar um “estado de ondas Alpha”, recompensando-as com o som de um sino. Esta foi a primeira vez que o feedback em tempo real foi fornecido aos seres humanos com base no monitoramento de EEG – a primeira instância de treinamento de Neurofeedback.



Dr. Joseph Kamiya.


Ivan Petrovich Pavlov, na década de 1890, recebeu seu Prêmio Nobel por seu trabalho no sistema digestivo de cães, porém não pelo seu trabalho sobre condicionamento clássico... no entanto, um montou o palco para o outro. Em miúdos, Pavlov tocava um sino toda vez antes de dar comida aos cães participantes do experimento.


Ao longo do tempo, foi observado que a salivação dos cães, muitas vezes, ocorria bem antes da comida chegar (isto é, somente pelo fato de um estímulo não necessariamente relacionado com o fornecimento direto de alimento – no caso, o tocar do sino - era realizado). O desenho experimental do condicionamento clássico colocou essas observações em uma estrutura rigorosa. Ele chamou a salivação antecipada de resposta condicional.


Ivan Petrovich Pavlov.


Exemplo de Condicionamento Clássico.

Apesar de muitos acadêmicos e estudiosos afirmarem que os processos de aprendizagem envolvendo o Neurofeedback se assemelham mais ao condicionamento operante (originalmente descoberto por por Burrhus Frederic Skinner) do que ao condicionamento clássico, seis décadas após a descoberta de Pavlov, seus estudos inspiraram M. Barry Sterman - um psicólogo de pesquisa e pesquisador do sono na Faculdade de Medicina da UCLA e no Hospital de Administração de Veteranos de Sepulveda - em suas próprias investigações sobre o início do sono.



Dr. Barry Sterman.

Entre as décadas de 1950 e 1960, o Dr. Sterman descobriu que os gatos em seu laboratório podiam ser treinados para aumentar suas ondas cerebrais em um certo intervalo de frequências específicas quando recompensados com comida. Essa frequência, que Dr. Sterman chamou de Ritmo Sensório-Motor (SMR), se encontrava entre 12 e 15 Hertz (Hz - ciclos por segundo).



Gato de Barry Sterman, durante o treinamento de ondas SMR.



Formato de onda do Ritmo Sensório-Motor (SMR).


Alguns anos depois, o Dr. Sterman estava fazendo um experimento para a NASA sobre se um combustível específico para foguetes causava convulsões, e ele utilizou os mesmos gatos como sujeitos do experimento (além de outros gatos, que não haviam sido condicionados ao mesmo treinamento). Durante este estudo, ele descobriu (para sua surpresa!) que os gatos que haviam sido submetidos ao treinamento de SMR eram significativamente menos propensos a sofrerem convulsões em comparação com os outros gatos. O Dr. Sterman aplicou essa técnica a seres humanos que sofriam de epilepsia, onde descobriu-se que 60% dos indivíduos foram capazes de reduzir suas crises epilépticas em 20 a 100%, e que os resultados foram duradouros.


Na década de 1970, o Dr. Joel Lubar começou a executar estudos controlados aplicando treinamentos com Neurofeedback em crianças, adolescentes e adultos para tratar o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Desde então, surgiu um corpo significativo de pesquisas sobre a eficácia da terapia de Neurofeedback para o tratamento de TDAH, com muitos estudos mostrando melhorias significativas e de longo prazo após os treinamentos com Neurofeedback.



Dr. Joel Lubar.

Hoje, o Neurofeedback representa uma forma de “terapia” adjunta e alternativa para o aumento de desempenho cerebral (foco, concentração, energia, melhora nas funções executivas e cognitivas, etc), bem como para o tratamento/treinamento para a melhora (porém não cura) de problemas sintomáticos relacionados a certos transtornos, como o TDAH, TEPT , TOC, ansiedade, depressão, transtornos do espectro autista, fibromialgia, dores crônicas, fadiga crônica, enxaquecas, sintomas decorrentes de traumatismos cranianos, transtorno do apego reativo, drogadições e vício em álcool, dentre muitos outros.



Referências Bibliográficas:


  • Othmer, S. (2015). "History of Neurofeedback". doi: 10.1201/b18671-4.


  • Coghill, D. (2010). "Neurofeedback training improves ADHD symptoms more than attention skills training". Evidence-Based Mental Health, 13(1), 21-21. doi: 10.1136/ebmh.13.1.21.


  • Kamiya, J. (1971). "Operant Control of the EEG Alpha Rhythm and Some of its Reported Effects on Consciousness". Biofeedback and Self-Control: an Aldine Reader on the Regulation of Bodily Processes and Consciousness.


  • Sterman, M.B.; Friar, L. (1972). "Suppression of seizures in an epileptic following sensorimotor EEG feedback training". Electroencephalogr Clin Neurophysiol. 33 (1): 89–95. doi:10.1016/0013-4694(72)90028-4. PMID 4113278.


  • Sterman, M.B. (2000). "Basic concepts and clinical findings in the treatment of seizure disorders with EEG operant conditioning". Clin Electroencephalogr. 31 (1): 45–55. doi:10.1177/155005940003100111. PMID 10638352.















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